«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Manifesto XLIV

Talvez

I
talvez um dia,
eu acorde na tua caverna vazia,
desenrole o pêlo e lamba a ferida,

II
talvez um dia,
o sangue seja só uma poça, só,
e as patas correias sem nó,

III
talvez um dia,
o suor deixe de escorrer pelas paredes, cinzentas
e as mãos se juntem eternamente,

IV
talvez um dia,
eu sacuda as costas
quebre os ossos,
beba a água,
enquanto se estica a espinha,

V
talvez um dia,
um dia, talvez

1 comentário:

  1. ah, malditos advérbios...
    eu sei, eu sei... "por vezes tudo sangra.
    quase nada se esquece…"
    um beijo!

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