«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

III

Vezes sem conta percorro as ruas da cidade.
A minha cidade, que visito uma e outra vez.
Granito frio, que se eleva em altas casas,
Vazias de habitantes, repletas de memórias.
Os muros cedem melancolicamente ao passar do tempo,
Um relógio lento de segundos que correm ávidos
Uma folha de calendário esquecida de virar.

Os tristes vazios edifícios são alegrados por grafitis,
Alguns dignos de galeria de arte,
Outros apenas merecem um olhar. Distracção!

Caminho lentamente por esta minha cidade.
As pessoas que por mim passam,
Seguem o seu caminho mecânico, mecânico, sem pensar.
Apresso o passo por entre a multidão desconhecida
Olho o céu, pesadas nuvens cinzentas correm ligeiras
Misturadas com o fumo dos escapes do carro.

Corro, também imitando os meus companheiros mudos de viagem,
Rua à esquerda, à direita, em frente
Corro sem destino, de encontro ao local marcado.

A chuva começa a cair, pequenas gotas de água.
Seguidas por pesadas e grossas gotas de água,
Que caem numa enxurrada sem fim.
Paro aí, nesse local sem nome, que prefiro esquecer.
No engano de um raio de Sol que toca a minha face.
De um amor que existiu, que a esta conhecida solidão me levou.

Seguirei o meu rumo, acompanhada de um NADA!

1 comentário:

  1. Não me lembrava desta tua faceta sister... Quem diria que uma mulher das Ciências teria um tão bom gosto pelas Letras ;)

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