«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

I

Vivemos entre muros.
Altos, cinzentos, e frios muros.
Erguidos em verdes prados férteis,
Salpicados de tímidas fortes flores silvestres.
Alicerces no quente coração da crusta terrestre.
Altos, e cada vez mais altos muros,
Construídos pedra sobre pedra.
Pedra sobre pedra que teimará sempre em não cair.

Da programada concepção,
Do acto mecânico de procriação,
Uma criança verá o negro céu.
Ouvirá memórias de um Sol perdido no espaço.
Viverá entre os muros.
Altos, cinzentos, e gelados muros.

Mas no coração do ser,
Do verdadeiro SER HUMANO
Um mundo vive encerrado.
Um sonho, que antes foi,
Um desejo de voltar a ser.

Levanta-te, pequena grande criança.
Sonha, pensa, faz.
Na força do teu acto,
No manejar da tua espada,
O sangue derramado, o sangue que ferve,
No limiar da dor, toldada pelos sentidos,
A criança sou eu.

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