«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Visitei aquela estranha figura familiar,
Semanas antes de a ultima lufada de ar,
Repleta de oxigénio, penetrar nos seus fracos pulmões,
Cansados de uma vida inteira de estranha monotonia.

Entre memórias e lembranças, reconheci a sua fisionomia.
Aquela figura, outrora imponente,
Repousava num cadeirão de braços, de estilo colonial.
Os pés erguidos, apoiados num pequeno banco,
Que tremeria ao conhecer o seu Ser.
Um pequeno cobertor tapava as suas pernas
Que tantas vezes te afastaram de nós.

Contemplei vezes sem conta aquela feição,
De alguém perdido no tempo,
Que esqueceu o espaço, que desencontrou o seu rumo,
Sem nunca o saber.
Invadida por um bizarro sentimento de compaixão
Relembrei o passado, o distante,
Não o encontrei lá, procurei uma vez mais.
A sua ausência é nota dominante.

Agora que te enterro, choro umas estranhas lágrimas.
Não sinto a dor do luto,
O sofrimento da eterna perda.
Choro, apenas choro, um choro sem dor
Porque não tenho lembranças a recordar,
Um nada.

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