pela idade, pela família e porque assim se esperava, foram obrigados a partilhar os brinquedos, as roupas, os joelhos esfolados e os pais.
o Gil branco e o Gil preto cresceram, tornaram-se no Senhor Gil (branco) e no Senhor Gil (preto), porque isto dos apelidos não se diz aos apelidados. viram os jogos de futebol tornaram-se em colheitas e vindimas e os joelhos esfolados tornarem-se em mãos calejadas. enterraram pai e mãe, pela ordem que se lê. fizeram as partilhas, ao pormenor, ao milímetro.
do lado nascente ficavam as terras do branco, do lado poente as terras do preto. quando alguém perguntava, de quem são estas terras?, essas terras são todas do Gil, branco ou preto.
o ouro era todo o que as mãos conseguissem apanhar, as terras todas as que a vista conseguisse alcançar, a água toda a que fosse possível desviar. toda a aldeia era pertença do Gil, toda a aldeia trabalhava para um dos Gil.
o Gil branco e o Gil preto morreram sem se falar, com uma diferença de onze meses. sem descendentes, as terras ficaram entregues aos cães, aos gatos, às ervas daninhas. anos e anos sem conhecerem arado, sem verem foices. as crianças corriam pelas suas terras enquanto desempenhavam papeis de índios e cowboys. os pais queriam-nos longe desses campos bravios que eram pertença do Gil branco e do Gil preto.
contam os antigos que nas noites frias o vento não corria nas terras porque os irmãos estavam lá a tentar chegar a uma trégua.
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