aproxima-se o inverno
sei-o: pressinto-o na pele gelada, no vapor que sobe a partir dos gritos encerrados, nos olhos imóveis perante a neblina que se estende
estalam os ossos, a clavícula desalinhada, os dedos entorpecidos, o rosto engelhado de frio
uma chuva forte insiste em cair, escorre em grossos rios pelas casas, pelas estátuas, pelos candeeiros de luz amarela, pelo pêlo e pelas patas dos cães vadios, pelas latas de lixo, pela cidade
teimo em aqui ficar, como uma estátua
se me esquecer, também os outros de mim se esquecem
inverno: há já muito tempo
há muito tempo que me esqueci de quem era
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
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ResponderEliminaros seus cabelos sentem o inverno
ResponderEliminarfeito os versos e tudo que está
ao seu redor e íntimo
abraço carinhoso,
ResponderEliminarLaura.
O inverno é um chato.
ResponderEliminarMas as tuas palavras não...
Beijos, querida amiga.
Laura, os piores invernos são os internos, os meus por vezes são de imensas, intensas nevascas. Não gosto. Enregela meus ossos e tudo por dentro hiberna não sei se em morte ou espera.
ResponderEliminarSei que em algum tempo ele se vai, e eu primavero. Só isso me salva, só isso.
beijinho, com afeto!
p.s: fiz teu pedido ao mr. orange :)