«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um grão de pó tocou-me no ombro,
Suave como a brisa num dia de Primavera,
Frágil como uma insignificante onda,
Que se dilui de encontro a uma rocha.

Um grão de pó insistiu em tocar-me no ombro,
Fresco como a chuva numa noite de Verão,
Quente como o odor a especiarias
Dos bazares a Sul.

Um grão de pó ousou tocar-me no ombro,
Frio como as noites de Outono,
Ágil como as águas dos rios,
Em fuga para a foz.

Um grão de pó resoluto tocou-me no ombro,
Longo como as noites de Inverno,
Forte como as sequóias
Elevando-se no céu.

Um grão de pó tocou-me no ombro.
E eu acordei.

1 comentário: