«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 21 de abril de 2009

Porto 2

Ruas íngremes, serpenteadas por estreitas vielas,
Povoadas de estranhos seres de dentes cariados.
Onde o odor a urina sobressai no familiar odor a mofo.
Paralelo gasto pelo passar dos anos
Infinitamente percorrido por varinas de socos,
Baptizado por água suja que corre em direcção ao rio.

Casas que ameaçam ruir
Com o peso dos anos que atravessaram
Albergando famílias inteiras de avós, pais e filhos.
Casas habitadas por uma população envelhecida,
Aguardando em ânsia pelo seu prometido,
El rei D. Sebastião.

O cinzento dos edifícios confundindo-se
Com a tristeza do céu.
O sofrimento do teu povo em comunhão
Com o vazio do futuro

Este Porto da minha alma,
Pintado pelo comum dos mortais
Como a mais triste cidade vista.
Habita dentro de mim avivando o meu triste existir,
Assistindo-me na minha ausência.

Porto, quem não te conhece
Jamais te poderá amar.

1 comentário:

  1. A Poesia do real, o grito urbano, o afã da civilização, num olhar profundamente apaixonado e docemente melancólico. Não é o Porto feito de pedra que cantas... é o que vive no teu coração!
    Beijinho, queirida Amiga!
    P.S. Bibà francesinha, carago!!!!!!!!!!!!

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