«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sucedem-se os teus dias, iguais a muitos outros.
O relógio não pára. Tic-tac, tac-tic.
Acordas depois de uma noite de sono
Deitas-te depois de um dia de árduo trabalho.

No aconchego frio dos lençóis
Vais respirando calmamente,
Mas o dióxido de carbono não é expelido
Nem tão pouco o oxigénio inspirado.
Acordas, com falta de ar,
Encharcada num suor que não te pertence.
Procuras uma imagem que não vislumbras.
Rendes-te ao vazio da tua existência

Procuras o aconchego de uma mão,
Caindo num sono ténue.
Receias o monstro.
Na mão esquerda a lança,
Na direita o escudo.
Um pé em solo firme, outro em revoltas águas.
Vislumbras o monstro nos teus sonhos, tornados pesadelos.
O acordar, o repetir da história vivenciada.

Numa última réstia de força,
Ganhas arrojo, fintando o teu adversário:
O monstro que vive, cercando os teus passos,
Rondando a tua vida,
Sussurrando calor nas noites gélidas,
Soprando uma brisa nas noites abrasadoras.
Ergue-se perante ti, o derradeiro adversário.
Entre a decisão e o acto da matança:
O monstro, és tu.

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