na casa da Ana Maria, ainda as suas filhas eram gaiatas, nasceu um azevim destemido. e lá foi crescendo no reduzido quintal, porque este não servia para nada. as miúdas corriam livres pelas ruas de Pitões das Júnias e as tronchudas e as batatas cresciam num quinhão de terra á entrada, que também é saída da aldeia.
o azevim cresceu, as miúdas tornaram se mulheres e a Ana Maria curvou com o peso da dureza da vida e dos anos.
no Natal os seus ramos serviam para os tradicionais arranjos e durante o ano servia para ocupar o seu lugar.
na casa da Ana Maria, primeiro faltou o marido, uma geada que lhe deu levou-o em duas semanas. depois Braga roubou-lhe as filhas, deu-lhe netos e netas, que também foram roubados por outras cidades, outros países.
em Braga tinha um quarto com o seu nome, nunca lá colocou o pé, Se me tirares daqui, morro.
Ana Maria morreu sentada nas escadas a admirar finalmente o azevim. ficou a casa, ficou a árvore, algumas pedras cederam, mas a casa mantém-se.
também a Ana Maria continua, sentada confortavelmente nas escadas, a contemplar o azevim coberto de neve.
Pitões das Júnias
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