«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 10 de maio de 2018

quando ontem peguei na rola cinzenta que estava no meio da estrada, tremia por dentro. fugiu das minhas mãos uma vez, para cerca de meia duzia de centimetros. pensei que ia morrer quando vi o sangue dela nas minhas mãos. desci a rua até à casa dos meus pais, durante esse pequeno percurso chamei-a Lázaro. minha mãe tinha a janela aberta, como tinha Lázaro nas minhas mãos, chamei por minha mãe para me abrir a porta.
logo arranjamos um ninho, com um pano de flanela. lavei o sangue das mãos e desde aí não vi mais esse liquido vermelho. fiz festas no pescoco da Lázaro, que me respondeu com um fechar de olhos.
voltei ao local onde apanhei Lázaro para perceber se tinha perdido muito sangue e encontrei três distintas poças de sangue.
passei o resto do dia a ir ver Lazaro que já se tinha mexido varias vezes.
voltei a casa sempre a pensar que iria fazer quando recuperasse. troquei mensagem com minha mãe, continuava na mesma.
hoje de manhã Lázaro estava quentinha, mas não comia. minha mãe disse me que se não comesse iria morrer.
meio dia, Lázaro não comia, era bébé, não o sabia fazer.
continua sem comer, dizia me minha mãe do outros lado do telemóvel. olhei o ceu cinzentoe disse para mim, não és Deus.
minha mãe ligou me, 14:22, atendi e disse Lázaro morreu. minha mãe disse que morreu entre as suas mãos e as do meu pai, não sofreu ainda era bebé.
tentei não chorar, estava na escola, subi as escadas a pensar, não és Deus, não és Deus, não podes fintar a morte, não podes. Ponto!

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