«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 12 de abril de 2018


a minha caneta escreve aquilo que eu vou-lhe ditando baixinho
por vezes é lenta a fazer o que lhe peço
outras vezes sou eu que não lhe consigo dar trabalho
com ela assino também documentos oficiais
[vénia]
gosto de pegar nela, mostrar o seu corpo de metal e por baixo da tampa deixar adivinhar um aparo
assino rapidamente e guardo-a numa cerimónia pomposa

mas um dia começaram-me a acusar de escrever a vermelho
primeiro não liguei, mas o continuar dos avisos fez-me duvidar da cor da minha caneta
abri então um inquérito para perceber afinal qual a cor
castanho, vermelho, cor de vinho, vermelho-sujo, vermelho-limpo
não encontrei unanimidade



porra, a minha caneta escreve violeta
[cor inscrita na caixa]
alias, escreve todas as cores que eu quiser
fala de todos os lugares que vi
conta todas as histórias que presenciei
diz o que eu quero dizer e disse
diz o que eu queria dizer e não me era permitido
mas repito e insisto:
a minha caneta escreve a cor que eu lhe digo
só tenho pena é que não a saibam ver

[por baixo da roupa eu sei que estou nua e tu?]

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