«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

esventrado XXXII

acordo: uns cêntimos no bolso
levanto-me: um rosto que não sei
tento a subida: são cinzas que chovem

deixei que o tempo fugisse
entre as mãos sem o saber
agora que movo os dedos
já nada tenho para agarrar
não sou este corpo, não sou este retrato
sorrio e não me sei eu
choro e não me sei encontrar

penso: que quero eu então
penso: eu que tudo tenho
penso: procuro-me enquanto me perco
penso: vou-me perdendo enquanto me reconheço

e a tinta da china tudo é bonito
e com flores tudo tem um novo aroma
e com música todos os medos se retraem

e eu com alguns cêntimos no bolso

e sem sonhos para comprar

1 comentário:


  1. [o eu que se reclama
    noutro eu, que

    este sem chama.]

    um imenso abraço, Laura

    bL

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