«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 29 de julho de 2013

XXXVI

[dialogo do guerreiro]

existe uma madrugada fria
logo a seguir às noites em desalinho
é quando o sol, ainda que tímido, ainda que pálido
nos beija o rosto

abre os olhos
liberta os demónios
descansa o corpo cansado

um dia vamos de mão dada
alimentar os leões, sem medo no peito

um dia, um dia talvez
a tua mão conseguirá cobrir a minha
e nessa altura já posso cerrar as pálpebras

acorda, o dia despertou
a madrugada chega para ti

[terminam aqui os desAlinhados, este último desAlinhado é teu, Afonso, minha madrugada]


9 comentários:

  1. Poder encostar nossas palmas às do futuro... é sentir que somos!

    Beijos a ti e a Afonso, querida poeta!!

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  2. Laurinha querida,
    que belo...
    Lembrei-me dessas madrugadas, um misto de saudades de contemplação me veio...

    E terminam os desalinhados, porque agora só tens os alinhados :)

    Grande beijo para ti, meu sobrinho Afonso e o papai!
    Saudades muitas e muitas e vontade de conhecer esse menino.

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  3. O dia em qua a tua mão ficará coberta não demora muito... Será a altura em que ele vai ler este teu poema...
    Magnífico poema, como sempre.
    Laura, querida amiga, tem um bom resto de semana.
    Beijos.

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  4. Continuo a sentir uma certa perturbação ao ler os luares nos lábios de Laura Alberto!... Se por um lado há uma entrega total, íntima e incondicional, por outro há um desprendimento quase indiferente a tudo... ou nem tanto, como a intenção seja mesmo essa, a de relacionar uma coisa e outra, tatuando no sangue esse profundo estado de alma!... Ainda que estranho em sua estranha beleza, quase gótica!...


    Abraço

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  5. breves eternidades que seguem de uma linha para a outra, em (des)alinho absoluto, indiferentes aos anzóis e todos os engodos: "um dia, um dia talvez
    a tua mão conseguirá cobrir a minha" - e tudo o mais será apenas nó nas palavras, nos sons e nas sílabas.

    abraço, laura e afonso!

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  6. - mesmo que pálido, o sol dos dias, é simbolismo do calor da alma, do renascimento - e assim também o é em seus poemas.

    grande abraço.

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  7. Laura e Afonso
    dias ilminados para vocês.
    bjs

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