«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

desAlinhado XXXV

30ºC
início a descida pela avenida
envolta em nevoeiro
o frio afugentou as pessoas
ou talvez a hora não ajude
torna-se difícil respirar este ar gélido
que invade os pulmões, que corta as costelas

ninguém cruza o meu caminho
ninguém se avista ao perto, ao longe
onde está a cidade
dorme escondida com uma cruz no peito
na noite anterior lavou o sangue das mãos

[sou vulto cinzento de rosto tapado
figura disforme que sublima na memória
há muito tempo que me esqueci]

16 comentários:

  1. Tantas desculpas deitadas no esquecimento... E as mãos cumprem o castigo sem reclamar!

    Beijo, poeta da voz que me...dita!

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  2. Conheço de perto este esquecimento, onde só as passagens vultuosas dizem de nós.

    Beijo.

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  3. amo descer esta avenida com a mão entrelaçada a tua, poeta do caraca (brasileirando)
    bj

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  4. ninguém e um esquecimento:
    o eu se depõe
    a cidade é um fantasma desperto

    beijo

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  5. o coração da frase é o esquecimento mas o texto a que pertence, esse, acende a vertigem de toda a memória. mesmo que a avenida se apague e todos corram para lugar nenhum. alguma vez saberemos entender e aceitar este tão cinzento espelho do nosso próprio olhar?

    beijos, amiga!

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  6. O frio de nós é sempre o mais difícil de suportar.
    Beijos, minha querida
    (Nunca mais houve novidades, teremos sido ludibriadas?)

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  7. Fiquei confuso (e isso não é ruim)... 30°C é frio?

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  8. Laurinha,
    um tanto a esquecer e outro tanto a tentar esquecer, nesse frio da alma.

    Beijos desejando tudo de bom aos dois!

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  9. - que as figuras da cidade e as figuras de seu corpo unam-se para a estrada do si mesmo. sempre.

    grande abraço, querida Raquel.

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  10. A tua poesia é sempre excelente, mas enigmática...
    E este poema "pertence" a essa tua característica poética.
    Um beijo, querida amiga.

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  11. Olá, boa tarde, tem um recado no blog :)

    Bjinhos

    http://chadecalmila.blogspot.com.br/

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  12. Senti os 30º...!
    Gostei de ler, gosto sempre!

    Beijo

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  13. Querida amiga
    Foi apenas um nevoeiro.
    Aliás dias assim sempre afugentam a nós mesmas.
    Um lindo dia para você.
    Bjs.

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  14. A cidade aproxima, mas de costas voltadas. A cidade é um esboço da nossa solidão.

    Beijo :)

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  15. gente, que lindo, tão inspirador e certeiro!

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  16. Gostei, melhor dizendo, apreciei, mas não gostei, porque sentir isso não deve ser agradável: 30º em redor e frio ao mesmo tempo. Brrrr...

    beijinho

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