«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

domingo, 9 de dezembro de 2012

desAlinhado XXXII

com o tempo
o seu grosso escorrer pelas paredes
fui-me desfazendo
dos objectos inúteis que acumulei
em estantes, em baús
pelos cantos da sala
na penumbra dos corredores

ainda ouvi os seus ecos
roucos, as vozes geladas
penetrando a solidão da noite

um-a-um
dois-a-dois
todos se acumularam por fim na lixeira

regressei para uma casa vazia
e hoje colecciono as memórias dos outros
afogando a minha própria em quartos de hotel

9 comentários:

  1. todas as memórias são de outrem, aquelas em que somos coadjuvantes sem narrador,


    beijo

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  2. Desfazer-se de é reconstruir-se... O que dizes sempre espelha-me.

    Beijos, Laura

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  3. Nos desfazermos de objetos é facíl, difícil é desentrelaçá-los dos sentimentos adquiridos.

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  4. o desapego é o caminho para liberdade, mas ainda estamos longe disto.
    bj, poetaça mega-super-querida

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  5. Acho que já não precisavas desses objectos, a casa vazia é uma oportunidade de encontrares outros...que se colem melhor a ti...!

    Beijo

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  6. quanto de nós se extingue no silêncio desses corredores a que chamamos memória?

    abraço!

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  7. Laurinha,
    quartos de hotel, quartos de passagem, cenários efêmeros... e quantos deles existem dentro de nós, verdade?
    Beijos com saudades!

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  8. os objetos vão-se e levam nosso cheiro
    e nos deixam também o cheiro deles
    na nossa memória e nas memórias
    dos outros
    ...

    Que belíssimo poema!


    beijo carinhoso,
    Laura.

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  9. e vamos nos guardando...

    beijo, querida!

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