«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Balada XXIII


um fio de sangue escorria
pelo interior das coxas
fio fino esse, depois largo rio
pés descalços pisavam
o solo ainda húmido da noite passada

os primeiros raios de luz
os primeiros sons de vida
o eterno frio colado ao corpo

parcas roupas cobrindo a nudez
cabelos desgrenhados colados à testa
comidos com apetite voraz
acentuado odor almiscarado

corria louca pela estrada que desconhecia
pés em ferida, pele suja
o sangue corria, o fio engrandecia
marcava-se o trilho dos seus passos ao acaso

mergulhou num lago
tentativa de se expurgar
e aí ficou esquecida

11 comentários:

  1. e aí ficou.
    o esquecimento é uma cidade no fundo das águas.

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  2. a eternidade do mergulho!
    ler-te é estar diante da grande tela, sem piscar os olhos. sempre um roteiro espantoso
    bj poetaça, minha tão querida amiga

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  3. "cabelos desgrenhados colados à testa, comidos com apetite voraz". Cabelos comidos. Gostei dessa ideia! E o velho mundo acabou sim. E o novo já começou. Basta observar atentamente.

    Bjos!
    PS: Sempre baixo suas dicas musicais. Mas, quase não vejo música brasileira. Você curte? Conhece a pernambucana Karina Buhr? As letras das músicas dela são ótimas!

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  4. Mas talvez tenha encontrado o seu lar, nessas águas onde procurou a redenção...

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  5. Quanta dor nesses versos que sangram!

    beijoss

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  6. nem a memória a recorda, sequer. a verdade inscreve-se sempre com a tinta do sangue.

    abraço, laura!

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  7. Laurinha,
    por vezes é necessário esquecermos de nós mesmos, para nos constituir novamente em (re)lembranças.
    Muito lindo!
    Beijos e beijos! :)

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  8. O sangue é uma marca na tua poesia.
    Desta vez purificado num lago.
    Poema forte e muito bom. Gostei.
    Querida amiga, tem um Feliz Natal, extensivo aos que te são mais queridos.
    Beijinhos.

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  9. Laurinha,

    estou passando para desejar um lindo natal e um feliz ano novo!!!

    Beijos!

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  10. enquanto te leio, vou desenhando tua voz... e o que vejo é tão bonito!

    beijo, poeta!

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