Maria sai de casa, com o filho ao colo, perfeitamente encaixado no início da anca. O dia ainda desconhece a luz pálida do sol. Hoje é o primeiro dia de inverno, de inverno a sério e não é preciso o calendário para o saber.
No mesmo instante em que entrega o filho aos cuidados da ama, o marido atravessa a fronteira entre a Alemanha e a França. O cansaço é muito, mas a vontade de chegar a casa é maior.
Na noite de consoada, mãe e filho partilham no mesmo prato, a pobre refeição, enganando mais tarde o estômago com uma guloseima natalícia.
Debaixo do pinheiro de plástico, comprado numa promoção com desconto em cartão, não há presentes. Desculpem-me os leitores, mas prefiro substituir por, nunca há presentes.
Não se sabe bem a hora, mas parece que o filho da Maria caminhou pela primeira vez, quando ouviu bater à porta. Quase que consigo imaginar que deve de ter aberto a porta ao seu pai, o seu Pai Natal.
Uns quilómetros mais à frente, numa outra casa, de pessoas com outras posses, João traquina pergunta, Ó mãe, o Pai Natal é made in China?
Fotografia Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.com/
«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares
Sagaz.
ResponderEliminarE como diria um professor de Geografia, feroz.
beijos com carinho e admiração pra ti Laura e tudo de bom neste final de 2011 e para 2012 muito muito mais ♥♥♥♥♥
em tempos tais, a geografia é só uma circunstância
ResponderEliminarbeijo e muitas realizações e inspirações para ti e todos os teus
Laurinha, que o espírito de Boas Festas ilumine cada vez mais tua voz...
ResponderEliminarBeijinho carinhoso desta amiga que te admira muito!
Tão real e presente no nosso quotidiano...
ResponderEliminarFeliz Natal, Laura!
Beijinho grande.
Muito bom. Penso na caduquice de certas tradições adaptadas aos tempos da soberania do mercado, e na perpetuidade de certas contradições.
ResponderEliminarVá lá, engraçado imaginar milhões e milhões de operários chineses, não-cristãos, na produção de brinquedos e objetos que irão infestar os mercados numa das festas da cristandade.
Tudo de bom, Laura.
Beijo.