«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

balada II

flores ordinárias no parapeito da janela
portas com tinta de cor esquecida
cortinas esfarrapadas esgueirando-se entre vidros partidos

a chuva que escorre entre paralelos imundos
linhas direitas, linhas tortas

mulheres de corpos desnudos em ruínas
de casas escancaradas,
o odor humano

a chuva inunda os pés dos aventureiros
o aço frio marca a têmpora gelada:
tens coragem

2 comentários:

  1. cave: na melodia; nas palavras. há tanto de verdadeiro no mais escuro de cada um de nós.
    abraço, amiga!

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  2. Há sempre quem tenha coragem para as coisas mais ruinosas...
    Gostei do teu poema, é belíssimo. Apesar das flores ordinárias (será que as há?), etc., etc.
    Também gostei desta música do Nick Cave.
    Querida amiga, tem um bom resto de Domingo e uma boa semana.
    Desejo-te um Feliz Natal e um ano de 2012 cheio de coisas boas, extensível aos que te são mais queridos.
    Beijo.

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