«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

desAlinhados I

descobri ontem a forma das tuas mãos
cobertos pela fina pele branca, dedos nem excessivamente grandes, nem excessivamente pequenos, os mesmos dedos com que sempre seguraste o cigarro

tenho andado muito, as pernas cansadas, a mente confusa
nem penso, nem sei, o que sei eu ainda?
a língua de alcatrão cansa-me com seu cansaço repetitivo

ouço as vozes, os outros
riem, falam, conversam, riem mais alto
mas não encontro as palavras, a voz encerrou-se há muito neste peito gelado
e o frio é tanto que tento o calor de mil verões e continuo a encontrar o frio

e as tuas mãos ficam guardadas nos bolsos das calças
para que mais ninguém se perca nelas

3 comentários:

  1. Mãos ou garras? As imagens do hálito de alcatrão e dos dedos peritos no manejo do cigarro sutentam o texto em alta poeticidade. E, enfim, a autoconstatação da carícia deletéria nos bolsos que extenuam o poder destrutivo das mãos.

    Maravilha!

    Abraços!

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  2. laura laura,

    você é aquela que insiste quando tudo é abandono.

    eu que tenho guardado as mãos no bolso por tanto tempo sem me deixar guiar, também não possuo caminho próprio...

    beijo meu.
    ft

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  3. no dia em que souber encontrar-me nos trilhos onde me perdi, talvez perceba um pouco do que é essa tal coisa a que chamamos de felicidade...
    p.s. a música é soberba!

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