«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Crimes amorosos

XVII
último crime: o ódio
deixámos estas paredes, deixamo-nos ficar nesta cal e as nossas botas pisam a terra e seguem separadas
outros virão habitar entre os fantasmas pálidos de tudo o que nos bastou, outros dormirão nos nossos lençóis, de suor, de sangue e sal, outros falarão também a mesma língua de falácia
será sempre inverno, teremos sempre frio
quando olhar o meu corpo no espelho reconhecerei o contorno da tua mão na minha pele, quando abrir os lábios procurarei sempre os teus e encontrar assim a tua língua nos dedos entorpecidos
um crime qualquer: a ignorância
primeiro crime: existirmos

[terminam aqui os crimes amorosos, escritos tendo por base uma história entre dois amantes, hoje é o dia em que finalmente se separam, obrigada]

2 comentários:

  1. e na tua voz, a redenção!

    Te vi sorridente nas fotos de Roberto... senti uma inveja...rs!

    Beijinho,querida Laura!

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  2. depois do crime... o castigo. ou a redenção de ignorar a justiça dos homens (imitação barata da dos deuses). cada homem tem de ser a sua própria lei. lamentavelmente, não vive só e sujeita-se às demais.
    ah, as hierarquias do coração...

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