«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 25 de março de 2014

estilhaço número VIII

carrego talvez o cansaço
destes poucos anos de existência
consigo ainda encontrar espaço
uma réstia de pele
onde marcar as ausências
um fio de cabelo a arrancar
uma lágrima perdida pronta a sair
um sorriso que se dá e não se sente

e vou seguindo
iludindo e iludindo-me

rostos, rostos, rostos, rostos, rostos, rostos, rostos
e rostos
abraços, abraços, abraços, abraços, abraços, abraços, abraços
e abraços


e no fim a solidão de estar entre a multidão

estilhaço número VII

os amigos
enumero-os um-a-um
dedos das mãos e siga para os pés

os amigos
seus abraços
suas palavras preciosas

os amigos
tão depressa os sei
tão depressa os perco

os amigos
tão rápido a chegar
e num ápice a partir

os amigos
encontram outros rostos
acolhem novos corpos

os amigos
sentem asco e fingem
odeiam e fecham

os amigos
tantos são

e tanta é a solidão