«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 20 de maio de 2013

purgatorium XLIV


E é chegada a minha vez de sair de cena. A terceira pessoa ganha finalmente o seu papel de protagonista.
Estendeu-lhe a mão aberta, mas sem remédio, sem salvação. Primeiro sentiu a pele fria e áspera, os ossos sem réstia de carne.
Como que à queima-roupa, mas nunca pelas costas, jamais pelas costas, disparou-lhe a pergunta, Tens o dinheiro? Deveria tê-lo, mas esqueceu-se onde o puseram. Sim, decididamente deveria ter o dinheiro, outros tinham-se certificado de lho colocar nos bolsos. Só que agora as mãos inertes não saberiam busca-lo e de pouco lhe adiantaria a voz abafada debaixo de uns lábios extintos.
Sim, tinha realmente as moedas e ia ficar errando pois não sabia como as encontrar.
A porta fechou-se pesada, um baque forte, o silêncio derradeiro.

Fotografia de Pedro Polónio, http://club-silencio.blogspot.pt/
[nestes dias não tem sido fácil encontrar algum tempo para mim, Petiz rouba todo o tempo e ainda bem que o faz. tenho seguido meus colegas de viagem, navegado nas suas palavras, mas falta o tempo para comentar. hoje queixo me da falta dele, mas o Petiz cresce e daqui a nada vou ter saudades de ter falta de tempo e de estar com ele...leio vos por ai, sempre... até...]