Como foi que aqui
vim parar? O abismo escuro apoderou-se da minha mente. Busco os momentos, os
passos, os caminhos e apenas encontro mãos vazias, o nada que me enche as mãos.
Não sei em que
acreditar. Em ti não acredito. Em mim, sou obrigada a acreditar.
Porra, mas como foi
que aqui vim parar?
Não bebi, não bebo.
Não fumei, não
fumo, já não fumo.
Não abusei, não
abuso.
Não vivi, não vivo.
Uma réstia de
esperança no tampo imundo de uma mesa. Dobrar de esquinas confusas, ruas sem
nome, ruas sem ninguém.
Não sei como aqui
vim parar, mas talvez saiba como daqui sair. Sem estar sentada em cima do meu
rosto.
Decisão tardia, no
instante certo.
Esta foi a história
possível, a que se escondia na tinta que hoje seca, perene. Talvez volte,
talvez de mim se fale. Ou talvez ninguém me reconheça mais. Não importa, não me
interessa: reconheço-me do outro lado de mim, do outro lado do espelho.
Todas as vidas
encerram mortes anunciadas, uma morte apenas. E os nascimentos escondem mortes
sibiladas.
Fotografia Laura Alberto