«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Demorou imenso tempo
Até que teus lábios inertes,
Articulassem as palavras
Que no íntimo desejei ouvir.

Tardou a resposta,
Perdida nos meandros do pensar,
Da pergunta,
Encerrada em segredo.

Tempo passou.
Passou tempo.

Alguém amou,
Aquilo que perdeu.
Alguém perdeu,
Tudo o que amou.
Conheçam este ser
Deposto defronte dos vossos olhos.
A criatura negra,
Disfarçando entre o riso histérico,
Mergulhada na imensa solidão.

Venham ver a pessoa que vive,
Colorindo os vossos dias,
Enquanto se precipita na escuridão,
Apregoando a esperança,
Onde vivência o desespero.

Vejam este ser,
Que todos os dias se despe,
Habilmente iludindo,
Aqueles que se dizem amigos.
O general e o seu pesado casacão,
Conduziam os homens pela bruma.
Entre corpos chacinados
Perdidos nos anais da história.
Ao som de gritos de dor,
Carregados pelos ventos do desespero.

Sob o colete o coração que bate,
Ruidoso pela vida,
Silenciado pela morte,
Ressuscitado na vitória.

Os prados da esperança
Deram lugar as mecânicas cidades
Do futuro.
Os trilhos da perseverança
Cobriram-se de incapazes auto-estradas.
Mas a guerra, ainda se esconde lá.
Mas a guerra, ainda se esconde aí!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sempre

Por vezes durmo,
Sobressaltada na noite negra,
As vezes acordo,
Em ânsia pelos dias sombrios.

Muitas vezes desespero,
Perdida na existência do tempo,
Tantas vezes receio,
O fim da existência do Ser.

Poucas vezes choro,
A decisão inevitável,
Escassos segundos receio,
O início do fim.

Sempre tive certeza
Na incerteza de o ser.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Na realidade…

Reconheço uma brecha algures,
Que dá entrada ao vento,
Arrastando consigo os ciclones dos dias.
Carrego um vazio desde sempre,
Lembrando a memória
Da perda dilacerante.

Tenho o coração despovoado
De tudo aquilo que te ofereci.
O pensamento consciente
Da derrota do sonho impossível.

A raiva na falta de coragem.
O ardor na omissão do amor.
A certeza da repetição dos mesmos enganos.

Talvez

Não.
O rio recusa descer o leito,
Galgando o granito de encontro à foz.
Sim.
O relógio perdeu a corda,
Esquecendo a hora que passa.
Não.
O vento esmoreceu nas colinas,
Ignorando a semente.
Sim.
As chuvas secaram os oceanos
Inundando os desertos.
Não,
Encontro as regras.
Sim,
Revejo o futuro.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Por fim a tempestade que se avistava,
Alcançou o seu destino.
Os céus azuis tingiram-se de cinzento,
Os enérgicos ventos apagaram o Sol,
A corajosa chuva precipitou-se sobre a Terra.

Finalmente o dilúvio cumpria os oráculos,
Enquanto os deuses brincavam sem temor.
Até que enfim eram escorraçados
Os jocosos humanos.