«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sacanas

Os senhores do mundo,
Sentados atrás das suas secretárias,
Lançando os dados viciados,
Num jogo sem regras,
Movimentando os peões num fim inadiável.

Decidindo o futuro próximo,
Dos que cumprem cegamente,
Esperando a recompensa inexistente,
Daqueles que ditam
O discurso gasto pelos tempos.

Ah! Esses senhores do mundo,
Nos seus gabinetes assépticos,
Confortavelmente instalados,
Ignorando o pensamento,
Fingindo a sabedoria.

Ah! Esses sacanas dos senhores do mundo!
Ah! Esse sacana do mundo!

29/10/2009 18:15

Onde é que ela vive?
Numa terra desconhecida dos mapas,
Habitada por bizarras personagens.
Familiares aos forasteiros esquecidos,
Recordados nas noites vazias.

Onde é que ela está?
Escondida nos sorrisos vagos,
Disfarçada em vulgares discursos,
Proferidos na multidão, fitando a solidão.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

25/10/2009 16:40

Onde é que ela se esconde?
Nas altas montanhas do medo,
Barricada em paliçadas de esquecimento.
Fugindo ao olhar dos vigilantes,
Fintando os destemidos batedores.

Onde é que ela se refugia?
Nos profundos vales do pensamento,
Encoberta pelos meandros do presente.
Escapando aos cumpridores assassinos,
Vivendo com o anónimo futuro.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

... e saí!

Naquela noite de Inverno,
Em que o vento desalinhava os céus,
E a chuva teimava em não parar.
Dois corpos encontravam-se na bruma,
Renunciando resistir ao suprimido.

Na noite em que a esfera celeste insistia em cair,
Forçando o destino de mil estrelas,
No abismo dos dias.
Dois corpos tocavam-se na escuridão,
Consumindo o desejo utópico.

Naquela noite, dois corpos, antes duas pessoas, amaram-se.
Eram duas, foram uma, são duas.
Naquela noite de Inverno o meu ser foi teu querer, o teu querer foi o meu ser.
Naquela noite disse-te:
-Adeus...

Fausto 0,10

Pois é Fausto, retomei aquela velha estrada perdida no tempo. Sabes, aquela estrada longínqua na memória, não alcançável pelo olhar.
Não sei para que lado virei, sem uma referência não consigo distinguir a esquerda da direita. Uma rajada de vento tanto me leva numa rotação de 180º ou de 360º.
Ah! Não, não Fausto. Não me perguntes sobre as dúvidas.
- Sim, pergunto. Insisto. Não passas de uma traidora.
Pobre Fausto, enquanto não regressares ao início, não traçarás o futuro.
- Triste alma, o que vives é uma ilusão disfarçada.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Corta o cabelo.
Toma banho.
No fundo do baú vais encontrar uns jeans.
Veste-os.
Não te preocupes com o frio,
Algo acabará por te aquecer.
Transporta a mochila pequena,
É suficiente para o necessário.
Os sonhos guardam-se na mente,
Até ao dia em que perturbam a visão.
Não receies o medo, pois é ele que te faz avançar.
Os olhos mostram-te o futuro,
Os teus pés levam-te a ele.
Não é a força que te carregará ao destino,
Ou o temor que to impedirá de o alcançar,
És tu que terás a consciência
Mas só no dia do juízo final.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amigo: parece quase engraçado que no livro que me encontro a ler me tenha deparado com este verso. Respondo então ao desafio (re)lançado:
"Toma, é apenas um coração
segura-o na tua mão
e quando chegar o dia,
abre a tua mão e deixa que o Sol o
aqueça..."
Relatos da Revolução Cubana - Ernesto Che Guevara
página 155
Mostra-me.
A casa que habitas cumprindo a equidade dos dias.
Fala-me.
Do país que defendes na incompreensão das leis.
Conta-me.
Os sonhos que perdeste diluídos em medo.
Deixa-me.
Ouvir o coração que bate esquecido do tempo.
Revela-me.
A individualidade do ser mascarada em números.

Mostro-te.
As casas que habito saltando entre os dias.
Falo-te.
Do país que vislumbro no futuro.
Conto-te.
Os sonhos ganhos nas batalhas do inevitável.
Deixo-te.
Ouvir o coração que clama contenda.
Revelo-te.
O Ser descoberto na perceptível mudança.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Disse que ia escrever mil vezes a palavra:
Amo-te.
A giz, no velho quadro da escola.

Prometi que ia dizer mil vezes a palavra:
Amo-te.
No silêncio da noite para que todos ouvissem.

Teclei mil vezes a palavra:
Amo-te.
No meu blog para que todo o mundo o soubesse.

Sonhei mil vezes a palavra:
Amo-te.
Para que pudesse simplesmente existir.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Meu cavalo alado levou-me nos céus.
Corria meu cavalo branco.
Fugindo às nuvens de vento,
Rompendo pela estratosfera.

Meu cavalo branco mostrou-me o mundo.
Assim via meu cavalo alado,
Essa esfera achatada nos pólos,
Azul celeste, como se céu se tratasse.

Meu cavalo alado desvendou-me as florestas,
Dançava meu cavalo branco,
Entre as copas das arvores,
Sorrateiro nas veredas abismais.

Cansado, meu cavalo branco pousou em teus braços.
Cumprido a impossibilidade do Ser.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009


Naquela manhã de Outono acordei sem forças.
Todo o peso do Universo tinha caído sob meus ombros.
As palavras soavam imperceptivelmente nos meus ouvidos.
Os murmúrios entoavam por entre a mente.

Os membros tentaram em vão mexer,
Numa tentativa fracassada de fuga.
Os pulmões inspiravam o ar,
Para com custo o expirar.

As leis intocáveis teimaram,
Quase derrotadas pela solidão.
O inexplicável esgueirou-se entre as frestas do pensamento.
Do fim fez-se o início, da queda a ascensão.
Corri na madrugada chuvosa,
Entre vales e montes imaginários,
Penetrando na floresta em sonho,
Envergando o destino sob os ombros.

Fugi da aurora que irrompia,
Guardando-me nas grutas da ilusão,
Enquanto esperava pelo crepúsculo
Que me levasse da realidade.

Falseei os dias compridos,
Murmurando em loucura,
Cavando o abrigo de Babel,
Em torre elevada nos céus.

Compreendi a enigmática perda,
Da existência assumida.
As palavras que se escrevem,
Dia após dia.
Noite após noite.
Formam estranhas frases que criam um poema.

Todo o sentimento do mundo,
Registado numa enigmática prosa.
Letra de uma música que ecoa,
Na mensagem que transporta.

A dor que consome o condenado,
Prisioneiro numa teia que não teceu,
Acaso de uma vida anulada,
Revisitada em contínuo sobressalto.

O amor que lentamente corrói,
Num fogo doloroso,
Aquele cujo erro foi amar
Quem nunca existiu.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vezes sem conta

Quando foi que nos amamos?
Em sonhos.
Quando foi que demos voz ao sentimento?
Em silêncio.
Quantas vezes nos desejamos?
No desconhecido.
Quantas vezes nos tocamos?
Na solidão dos dias.
Quantas vezes nos amamos?
Na sinopse do tempo.


Quando foi que te conheci?
No nunca de um amanhã.