«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Tanto mar justamente revolto,
Galgando impiedosamente os firmes rochedos
Arrastando os perdidos prisioneiros.

Todos os oceanos clamando num pranto,
Pelo local do encontro,
Convocando a inevitável revolução.

Imensas as majestosas montanhas,
Fecundadas pelo vento,
Portador da notícia.

Tristes os que choram na praia de outrora,
Derrotados aqueles que permanecem em silêncio,
Gloriosos os que morrem na terra seca,
Contemplando a longínqua pátria.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Universo

O fim.
O inicio.
De nada.
De tudo.
De ontem,
Sendo hoje,
Esperando por amanha.

O frio,
Perdido no calor.
Encontrado no lá.
Desejado aqui.
Esquecido aí.

O desespero.
A esperança.
Encerrada,
Na liberdade de fugir
Para estar prisioneiro.

Braço partido,
Impedindo,
Aquilo que desimpede,
Na possibilidade,
Da impossibilidade.

O amanha,
Esperando.
Por hoje,
Sendo ontem,
O inicio,
De nada,
No fim.

A paz,
Na guerra.
A morte,
Na vida.
O azar,
Na sorte.

Ou

A sorte,
Na vida.
O azar,
Na morte.
A guerra,
Na paz.

O sentido.
Que não tem sentido.
O sentido.
Que não fez destino.
O destino.
Que nunca teve sentido

Não.
Sim.

Talvez.

A pergunta terá resposta.
As respostas terão perguntas.

O início terá o fim.
O fim será o início.

O preto.
No branco.
O cinzento,
No preto,
No branco.

Talvez.

Sim.
Não.

O átomo.
No mundo.
O mundo,
No universo.
Desorganização.
Organizada.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Palmilhando o caminho traçado,
Inocentemente programado,
Entre sonho e realidade,
A dureza da escolha:
Seguir o previsto fugindo do desconhecido?
Mergulhar na apetecível incerteza?

Loucos os atalhos que tomamos,
Ocultados por desculpas comuns,
Disfarçando por entre a multidão,
Honestamente sendo o Eu
Secretamente encerrado no momento da concepção.


Acertado é o rasto que fica,
Testemunha fidedigna,
De tudo o que ficou escondido.
Ah! Fumava agora um pensativo cigarro.
Calmamente inspirava o fumo,
Tentando absorver o limite de alcatrão,
Encharcando os meus pulmões em nicotina,
Para deliciosamente expirar o fumo azul.

Apenas um único e solitário cigarro,
Para brincar com ele entre os dedos,
Senti-lo nos lábios,
Perdendo-me na brasa laranja
Transformando-se em leve cinza.

Ah! O utópico cigarro fumado,
Contra leis,
Indiferente ao espaço.
O impossível cigarro
Jamais acabado.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quando descobri que te amava?
Naquele sitio onde perdemos o sentir,
Num desejo de alcançar o impossível,
Na estrada perdida do tempo?

Quando compreendi que te amei?
No instante em que tudo se precipitou
Bruscamente para a (in)decisão,
Cerrada em sufoco?

Quando percebi que iria amar-te?
Na existência mergulhada em solidão,
Cercada de um nada,
Disfarçado de um todo?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O vazio de uma folha alva,
Clamando pelo desbravar
De um solitário boligrafo.
Ansiando pelas letras que se unem.

O desespero do Homem,
Que em turbulência sentado,
Planeia a rota a seguir,
Por entre os muros da ignorância.

A palavra que se escreve,
Não espelha a dor que se sente,
A dor que se sente,
Não corresponde à palavra que se escreveu.

A fúria do Homem,
Em revolta com o pensamento,
Construído na firmeza dos princípios,
Corrompido pela podridão do presente.

Sofre aquele que sente,
Fingindo na verdade que nada sente,
Vivendo aquilo que na mentira sente,
Com cólera sentido aquilo que sofre.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um grão de pó tocou-me no ombro,
Suave como a brisa num dia de Primavera,
Frágil como uma insignificante onda,
Que se dilui de encontro a uma rocha.

Um grão de pó insistiu em tocar-me no ombro,
Fresco como a chuva numa noite de Verão,
Quente como o odor a especiarias
Dos bazares a Sul.

Um grão de pó ousou tocar-me no ombro,
Frio como as noites de Outono,
Ágil como as águas dos rios,
Em fuga para a foz.

Um grão de pó resoluto tocou-me no ombro,
Longo como as noites de Inverno,
Forte como as sequóias
Elevando-se no céu.

Um grão de pó tocou-me no ombro.
E eu acordei.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Articulas os teus finos lábios,
Deixando sair o silêncio.

Abres os teus desmesurados olhos,
Para entrever a escuridão.

Mergulhas no éter,
Em busca da palavra.

Segues o teu trilho
Rumando sem destino.

Ergues os teus braços,
Sem ter quem abraçar.
A vertiginosa queda,
Daquele que ligeiro ascendeu,
À elevada montanha.
Em curso pelo estudado caminho,
Galgando os inocentes.
Que na sua ingenuidade,
Confiam naquele que lidera.

A espada da justiça,
Cortando o ar em redor,
Do pescoço do falso líder.
Num golpe seco,
Fazendo vencer a voz da razão,
Num mundo onde impera
A errónea convicção do individuo.