«Escrever não é agradável. É um trabalho duro e sofre-se muito. Por momentos, sentimo-nos incapazes: a sensação de fracasso é enorme e isso significa que não há sentimento de satisfação ou de triunfo. Porém, o problema é pior se não escrever: sinto-me perdido. Se não escrever, sinto que a minha vida carece de sentido.»
de Paul Auster
"Saber que será má uma obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. […] O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou não me basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida."
de Bernardo Soares

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Mundo 2009

Privatização.
Injecção de capital.
Capitalismo.
Abstraccionismo.
Possibilidade.
Corrupção.
Paraísos Fiscais.
Falências.
Injecção de capital.
Desemprego.
Corrupção.
Possibilidade.
Políticos.
Politica.
Esquerda.
Direita.
Bloco central.
Corrupção.
Falências.
Novas iniciativas.
Ricos, enriquecendo.
Pobres, empobrecendo.
Fome.
Excesso.
Saúde publica.
Saúde privada.
Futuro?
Lay off.
Corrupção.
Destruição.

Condescendência

Deixei que o preto das minhas vestes,
Invadisse a minha alma,
Pintando de negro a ínfima cor que ainda existia.

Compreendi o teu permanente silêncio,
Quando buscava a palavra,
Que me guiasse no meu sombrio percurso.

Aceitei a ausência do teu gesto
Enquanto desesperava
Pelo conforto de um abraço.

Deixei que saísses da minha vida,
Querendo-te lá.

sábado, 16 de maio de 2009

Breves momentos juntos,
Partilhando no tempo um espaço em comum,
Entre gestos vagos,
De finalidade perfeitamente definida.

Corpos que se tocaram fortuitamente,
Num desejo cego,
Ambicionando alcançar
Um paraíso proibido.

Tristes almas gémeas,
Seguindo o trilho forçado,
Em silêncio correndo para a separação,
E em segredo desejando.

Seres desesperados,
Vivendo inutilmente,
Eternamente mergulhados na covardia
De não saber amar.

Ou de não querer amar.
Amo-te, meu amor,
Nesse mundo que habitas,
Consumido no medo de dizer,
Sofrendo com o desejo de querer.

Amo-te, meu amor,
Perdido nesse passado recente,
Entre desencontros não programados,
Permanentemente adiados.

Amo-te, meu amor,
No dia em que nos separamos,
Prometendo sem dizer
Que no fim nos vamos encontrar.

Amo-te sim, meu amor.
No silêncio,
Em silêncio.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Maratona

Numa possível acção,
Corro rumo à inexistente meta,
Passos certos, num caminho desconhecido.

Inspiro.
Expiro.
Torno à direita,
Querendo seguir pela esquerda.
Sem retorno possível.

Expiro.
Inspiro.
Aumento a velocidade,
Ignorando suspender a corrida,
Cansada pelo trajecto.

Inspiro.
Expiro.
Envolto em mistério,
Vislumbro um fim,
Que continuo a não encontrar.

Inspiro,
Cobiçando o saber de 100 anos.

Expiro,
Desejando um corpo de 18 anos.

Sigo correndo,
Na maratona de uma vida.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Douz

Regresso da possível viagem,
Na mala um monte de roupa suja,
Nos pulmões o pó do deserto,
Olhos vazios de imagens,
Numa mente cheia de percepções.

O retorno à vida que não escolhi,
Confronto com essa sociedade forçada,
Em ritual desgastante de um dia adormecido.

Trago o pó do deserto nas narinas,
O cheiro abafado do oásis desejado.
Nos olhos a imagem da areia dourada,
Facilmente impressa pelas patas dos camelos,
Rapidamente revolta pelo vento sul.

O tornar a uma língua familiar,
Que finjo não ouvir
Numa ausência total.

Sinto ainda o ar abafado,
O calor que cerca o corpo,
Tornando impossível movimentos rápidos,
Sem o inevitável cansaço.

Vejo ainda o pôr-do-sol,
Naquele local onde eu fui Eu,
À descoberta.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

01-05-2009

Circulo cerrado de mentiras,
Onde te encontras desde a concessão,
Vivendo a ilusão da verdade,
Consumida pela percepção da mentira.

Memórias de uma longínqua infância,
Povoada pela ausência dos parentes,
Lembrança de uma infância,
Repleta de amor dos presentes.

Nos gestos vagos, o falso arrependimento,
Breves remorsos do passado,
Eternamente presente.
A desculpa, nunca proferida,
Perdida no acto da absolvição.

A história acabará por se repetir,
Refrescando a memória daquela história:
Onde os amigos são inimigos,
As doces palavras transportam o fel da maldade,
E aqueles que amamos são os que nos odeiam.